Retorne ao SPIN

sábado, 20 de dezembro de 2014

A lógica dos baixos preços do petróleo


Por Rogério Maestri
Para se falar em petróleo tem que se pensar no recurso natural Petróleo (óbvio, é claro) e muitas pessoas começam a falar e dissertar esquecendo-se do básico, as reservas comprovadas de petróleo CONVENCIONAL das grandes petroleiras e a posição de cada uma no mercado internacional.
Todos sabem que o mercado mais Mafioso do Mundo, ultrapassando mesmo a construção civil (esta é mais mafiosa em microescala), é o mercado do petróleo e todos sabem também que a maior de todas as empresas é a Exxon Mobil, porém talvez não seja conhecimento que esta grande empresa não está tão bem assim quanto às reservas comprovadas de petróleo CONVENCIONAL, só para começar o assunto vou enumerar de acordo com um artigo bem recente 15/12/2014 de Paul Ausick denominado The World’s Top 10 Oil Companies onde o mesmo cita as dez empresas privadas (a Petrobrás é tida como tal no mercado norte-americano) com maiores reservas comprovadas de petróleo. Ele não coloca nesta lista as reservas que estão nas mãos dos sheiks árabes.
1. Exxon Mobil
 Proved Oil Reserves: 11.76 billion barrels
 2013 Oil Production: 709 million barrels
 Enterprise Value: $401.5 billion
 Revenues: $392.843 billion
 Net Profit: $34.3 billion
2. Petrobras
 Proved Oil Reserves: 11.04 billion barrels
 2013 Oil Production: 715.4 million barrels
 Enterprise Value: $142.534 billion
 Revenues: $146.297 billion
 Net Profit: $9.083 billion
3. PetroChina
 Proved Oil Reserves: 11.314 billion barrels
 2013 Oil Production: 932.9 million barrels
 Enterprise Value: $362.749 billion
 Revenues: $379.553 billion
 Net Profit: $21.236 billion
4. BP
 Proved Oil Reserves: 10.07 billion barrels
 2013 Oil Production: 733 million barrels
 Enterprise Value: $133.556 billion
 Revenues: $373.783 billion
 Net Profit: $9.229 billion
5. Royal Dutch Shell
 Proved Oil Reserves: 6.621 billion barrels
 2013 Oil Production: 564 million barrels
 Enterprise Value: $222.906 billion
 Revenues: $437.974 billion
 Net Profit: $16.06 billion
6. Chevron
 Proved Oil Reserves: 6.345 billion barrels
 2013 Oil Production: 632 million barrels
 Enterprise Value: $210.71 billion
 Revenues: $204.024 billion
 Net Profit: $20.7 billion
7. Total
 Proved Oil Reserves: 5.413 billion barrels
 2013 Oil Production: 426 million barrels
 Enterprise Value: $149.675 billion
 Revenues: $212.723 billion
 Net Profit: $11.56 billion
8. Suncor Energy
 Proved Oil Reserves: 4.372 billion barrels
 2013 Oil Production: 193 million barrels
 Enterprise Value: $46.665 billion
 Revenues: $36.475 billion
 Net Profit: $2.735 billion
9. ConocoPhillips
 Proved Oil Reserves: 4.779 billion barrels
 2013 Oil Production: 258 million barrels
 Enterprise Value: $94.09 billion
 Revenues: $57.461 billion
 Net Profit: $9.395 billion
10. Canadian Natural Resources
 Proved Oil Reserves: 3.513 billion barrels
 2013 Oil Production: 151 million barrels
 Enterprise Value: $44.24 billion
 Revenues: $16.482 billion
 Net Profit: $2.812 billion
Olhando os dados desta listinha chega-se a conclusões notáveis, tais como:
1)      Sem ainda uma nova rodada do Pré-sal as reservas comprovadas em mãos da Petrobrás chegam bem próximas as reservas comprovadas da Exxon Mobil, ultrapassando as gigantes BP, Shell, Chevron e Total (empresas como a italiana AGIP nem está nesta lista).
2)      Que o valor de mercado muitas vezes não corresponde diretamente aos lucros das mesmas ou das reservas comprovadas.
Alguém precipitadamente pode atribuir aos grandes lucros da Exxon Mobil e outras empresas em relação as suas reservas comprovadas a uma melhor capacidade gerencial, ou dizer ao contrário, que o lucro da Petrobrás em relação às outras é baixo devido aos desmandos na mesma. Porém estas afirmações podem ser facilmente rebatidas.
Empresas como a Exxon Mobil, a BP, a Shell e a Chevron tem grande parte de suas explorações em países como o Iraque ou a Líbia, bem como a participação na Arábia Saudita, Kuwait e outros emirados, ou seja, apesar das reservas não serem suas o lucro da operação e comercialização provém de reservas de terceiros.
Esta participação das grandes empresas petroleiras em países como o Iraque, Líbia e mesmo nos mais estável Arábia Saudita, o Kuwait e demais emirados (não se sabe até quando), estão sujeitas aos humores políticos locais e do próprio governo norte-americano.
Antes da revolução Iraniana, da intervenção no Iraque as reservas das grandes empresas de petróleo eram imensas, e mesmo na época do Kadafi na Líbia grandes contratos de produção de petróleo já estavam sendo negociados entre o governo Líbio e as grandes empresas. Logo o que podemos dizer que diferentemente do que a imensa maioria da imprensa e o senso comum de pessoas informadas, as peripécias e o apoio incondicional dos Estados Unidos tem sido um verdadeiro desastre para as grandes petroleiras. Ou seja, as intervenções diretas ou indiretas do governo norte-americano tem prejudicado mais as petroleiras do que auxilia-las.
Porém se considerarmos somente este cenário, podemos rapidamente concluir que as reservas do pré-sal são a cereja do bolo e o bônus central das grandes irmãs, porém aí entra em jogo outro fator, o petróleo de folhelho (conhecido pela massa como o petróleo de xisto, um imenso erro de notação!).
Talvez a leitura da publicação US oil and gas reserves study – 2014 de uma pista mais forte do principal objetivo do petróleo a preço baixo. Esta publicação baseada nos dados da United States Securities and Exchange Commission (SEC) mostra o estado das reservas comprovadas nos USA CONVENCIONAIS e NÃO CONVENCIONAIS, e o principal a evolução dessas reservas nos últimos anos por companhia e grupos de companhias.
Neste relatório além dos dados individuais as companhias de petróleo são divididas em três grandes grupos, as Integrateds (numa tradução grosseira, as integradas) que são as maiores que aparecem acima (BP, Chevron, Exxon Mobil, Hess e Shell), as Large independents (as grandes independentes) e as Independents (independentes), nessas últimas aparecem a Conoco-Phillips já colocada entre as maiores do mundo.
Pois se analisando este relatório, alguns dados saltam logo a vista, a progressão em termos de aumento de reservas destes grandes grupos e o custo de extração dos mesmos.
Olhando os diversos dados deste relatório se verifica várias coisas, primeiro que a taxa de reposição das reservas dos grandes e pequenos independentes é significativamente maior do que a reposição das Integradas. Das reservas comprovadas norte americanas que passaram de 16,7 bilhões de barris em 2009 para 25,4 bilhões de barris em 2013, apesar da Exxon Mobil possuir 2,3 bilhões de barris, as reservas das Integradas simplesmente estão estabilizadas em níveis de 2009 (mesmo com um leve declínio). Por outro lado, como as reservas das Integradas provém a maior parte de campos tradicionais de petróleo os custos das mesmas na extração são significativamente mais baixos.
Agora vamos à conclusão, a queda do preço do petróleo no mercado mundial, que é tão artificial quanto à alta que ocorreu em 2008, ela num primeiro momento serviu para que a produção do petróleo norte-americano aumentasse assustadoramente através da exploração do petróleo não convencional, serviu para que a economia norte-americana gerasse milhões de empregos bem remunerados na indústria do petróleo do fracking e tirasse os Estados Unidos da recessão (Vocês acham que o que tirou os Estados Unidos da recessão foi baixar a taxa de juros de 2% para 0,5%? Se acham reformulem suas convicções.), e também serviu (como dano colateral) para reforçar as economias da Rússia e Venezuela e baixar o status das grandes petroleiras.
A atual política de preços baixos visa principalmente em fazer voltar ao mercado as grandes, e retirar do mercado a imensa maioria de pigmeus (pigmeus, para o mercado de petróleo) que estão devidamente endividadas e com custos altos de produção. O resto, como a Rússia, Irã, Venezuela e Petrobrás é tudo bônus extra.

Nenhum comentário: