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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Marta muda ou acaba, por Percival Maricato

Marta Suplicy tem recebido as criticas merecidas por suas espantosas declarações em estudada entrevista ao Estadão. De forma deselegante e anti ética, revelou conversas íntimas com Lula, colocando-o e a presidente Dilma em situação constrangedora, culminando por dizer que o PT muda ou acaba.
Marta deve sua carreira ao PT, está nele desde o início, sabe que as mudanças mais importantes já ocorreram antes mesmo dela se candidatar a prefeita. Deveria ter escolhido uma forma mais discreta de desembarcar, agradecendo e desejando boa sorte aos que ficam. Críticas seriam desejáveis, mas deveriam vir na forma e conteúdo adequados e não centrada sobre conduta de pessoas.
A maior das mudanças no PT aconteceu logo nos primeiros anos: o  que era para ser um partido de base passou por uma etapa de partido de facções (os diretórios foram aparelhados; havia uma disputa feroz por eleger delegados) e em seguida se transformou em um partido de parlamentares.
O maior legado positivo do PT, que tem compensado as perdas no campo da ética e do idealismo, foi a inclusão econômica, social e política de dezenas de milhões de brasileiros e a conquista da independência política pela dupla Lula-Dilma. O país deixou de ser dependente, excessivamente miserável e injusto, mudou para melhor. Houve ineficiências, a corrupção continuou perversa, em grande parte em decorrência da necessidade de fazer alianças sem olhar com quem e sobrou uma conta para pagar. Dilma tenta recuperar o caixa com uma nova política na área econômica; poupança e investimentos e não distribuição de renda serão prioridades, pelo menos por uns dois anos.  
O PT acumulou força e tem condições de seguir sua lógica, ditada pelo sistema e  interesses das lideranças formadas internamente. Haverá defecções, talvez abertura para mais adesões, manterá boa parte dos votos conquistados na periferia das grandes cidades e do país, enquanto durar esta geração e não aparecer outro partido que preencha melhor as imensas expectativas desses setores (como aconteceu na Grécia). Nos próximos anos o PT deve continuar a ocupar a esquerda do espectro político, mas estará longe de mudar a si mesmo, como seria desejável ou suprir as expectativas de nos levar a um outro patamar civilizatório, ou até mesmo a um sistema político-social um pouco melhor. Enfim, se mudar será muito pouco e não acabará. Quanto a Marta, corre mais riscos. Não deve ficar muda, mas dar maior conteúdo político às suas criticas, somar a elas autocrítica, controlar a insatisfação por não receber o que acha que merece. Por alguns anos quem conversar com ela confidencialmente sabe que deve pensar duas vezes no que for falar.


Percival Maricato

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