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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Comédia divina – a Operação Lava Jato chegará ao PSDB.


Percam todas as esperanças, vós que acreditais que a maldição do PT arrastará junto o amaldiçoado PSDB.
Vejo pelas terras do reino da esquerda a esperança de que, a partir da Lava Jato, o republicanismo tome conta do nosso sistema judiciário e que passemos o país a limpo, punindo todos os envolvidos, sejam de que partidos forem.
Não são em outro sentido as declarações da presidente Dilma neste domingo, 16/11/2014.
“[A Operação Lava Jato da Polícia Federal] mudará para sempre a relação entre a sociedade brasileira, o Estado brasileiro e a iniciativa privada. O Brasil mudará para sempre porque acabará a impunidade”.
O passado recente não me permite nutrir tais esperanças.
Ao PT será cobrado que desça ao nono ciclo do inferno. Para os outros, os corruptores, creio que tudo não passará de uma estada dura, ainda que breve, pelo Vale dos Ventos. Sem dúvida, neste instante, a vida deles foi colhida em um vendaval, mas eles têm nas suas contabilidades paralelas o passaporte para o purgatório e, de lá, a passagem para um dos sete céus.
Agora, e para alguém do PSDB pego em caso de fogo amigo? Para esse, haverá sempre o limbo. Junto aos pagãos virtuosos.
Não existe, por certo, corruptor ideológico ou doleiro de esquerda. PT e PSDB dividem o poder há duas décadas utilizando-se dos mesmos métodos. Mas não são tratados, de modo algum, da mesma maneira pela imprensa e pela Justiça. Sobre o segundo, recai o protetor manto da invisibilidade midiática que retarda a cobrança de ação do letárgico braço judiciário sempre para tempos ainda vindouros.
Vejamos.
No que este escândalo da Petrobras é diferente do escândalo envolvendo a Alston-Siemens em São Paulo? As propinas milionárias do trensalão, chamadas eufemisticamente pela nossa imprensa de "cartel". 
Há a delação premiada da Siemens, informações suficientes vindas da Suíça, sabe-se quem pagou, quanto pagou e para quem pagou. Um presidente do TCE – Tribunal de Contas do Estado, apontado como beneficiário do esquema, tinha, ou ainda tem, uma ilha em Paraty-RJ e uma mansão no Morumbi, o bairro dos milionários de São Paulo.
Um envolvido no esquema, filho da nossa alta burguesia, foi indiciado pela PF, mas isso não o impediu de ser coordenador da campanha de Aécio, nem lhe trouxe maiores problemas na Câmara dos Vereadores de São Paulo.
Um procurador que cuidava do caso literalmente engavetou-o por dois anos. Declarou que havia, pasmem, colocado o pedido de informações da justiça suíça na “pasta errada”.
A que levou tudo isso? Como está o caso do trensalão?
Já ouço que o Caso Petrobras-Lava Jato é o “maior escândalo da história” do Brasil. Ora, esse não era o mensalão do PT?
Afundar a P-36, na época, a maior plataforma de petróleo do mundo, ao custo de 11 trabalhadores mortos não é escandaloso, por certo. Quem fim deu esse caso? E o da Petrobrax, dos asfaltamentos da Baía de Guanabara e dos rios Birigui e Iguaçu no Paraná?
E FHC diz que está envergonhado com o que o PT fez com a Petrobras.
Pois bem, os petistas foram condenados na AP470 e estão cumprindo pena.
Mas e o mensalão do PSDB?
Os PSDBista não serão julgados.
Eduardo Azeredo renunciou ao mandato na ultimíssima hora para escapar do julgamento no STF. E, embora já houvesse consenso de que isso não o livraria – ver caso Donadon e desdobramentos do caso Cunha Lima, livrou-se. Seu caso foi enviado à primeira estância mineira onde aguarda a prescrição. Pimenta da Veiga, que levou R$ 300 mil de Marcos Valério por “serviços internos” está soltíssimo. Foi até candidato a governador de Minas Gerais.
José Roberto Arruda, do mensalão do DEM, foi “atrevido” ao se candidatar a governador do DF. Acabou, para desgosto de FHC, seu benfeitor, tendo a candidatura impugnada, mas chegou a liderar a campanha e está por aí, livre, leve e solto. A impugnação revoltou de tal maneira ao ministro Gilmar Mendes que este chegou a classificar a Corte que assim decidiu como um "tribunal nazista". 
Alguém se recorda de como foi a atuação do ministro Gilmar Mendes no caso do mensalão do PT?
Soltos também estão Cachoeira e Demóstenes Torres. Falar de Policarpo Jr. seria um ataque contra a liberdade de imprensa.
Sem maiores cuidados está o pessoal da “Castelo de Areia”.
Assim como José Serra e a “privataria tucana” feita no “limite da irresponsabilidade”. E seu envolvimento no "cartel" do metrô paulistano – sobre o qual só deu depoimento à PF depois de eleito senador? E o Paulo Preto?
Assim como Alckmin e o buraco do metrô – mais sete mortos. Fora alguns massacres. Quem se lembra do Pinheirinho ou da Castelinho? Quem não reagiu está vivo. E a eminente crise humanitária por falta de água, mas com alguns bilhões de reais pagos aos acionistas da SABESP, aqui e em Nova York? Ninguém se interessa em saber quem são eles, os acionistas?
A FHC, nada o perturba. Nem os R$ 200 mil por cabeça para comprar a emenda da reeleição, nem os seus apartamentos. Um, em Higienópolis-SP, comprado do mesmo banqueiro envolvido na lavagem de dinheiro do trensalão, o outro, em Paris, não sei se já foi declarado à Receita Federal. Nem sua fazenda em Burutis-MG.
Não, FHC não é o dono da Friboi, essa é do filho do Lula. Mas quando FHC começou a carreira política, que eu saiba, de terras, só possuía um pequeno sítio em Ibiúna-SP. Ninguém parece ter estranhado tal aumento de patrimônio, fora da política, FHC era um professor aposentado da USP. Nem ele parece estar preocupado em explicar nada.
É pouco?
E o aeroporto construído pela Camargo Correia na fazenda vizinha a de FHC e gentilmente cedido para seu uso? Que coincidência feliz.
PSDBista gosta de aeroporto particular, quem gosta de miséria é intelectual.
Veja Aécio Neves e seus dois aeroportos em Minas. Um em Claudio – fazenda do tio, outro em Montezuma – empreendimentos do pai já falecido. Aécio está se empenhando em conseguir um terceiro turno para as eleições de 2014 e não em dar explicações sobre essas duas “obras públicas”.
E tome Lista de Furnas, pasta Rosa e caso SIVAM.
Assunto nunca faltou, mas o PSDB ser responsabilizado, algo respingar-lhes as penas?
Não, de tapioca à Lava Jato, passando pela AP 470, é o PT o partido mais corrupto da história brasileira. E só.
Todo o mais que poderia acrescentar aqui fica por conta da ironia sábia e desesperançada de Stanislaw Ponte Preta:
“Que se restaure a moralidade, ou que nos locupletemos todos”.
Fora disso, é comédia.

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