Por Luiz Eduardo Brandão
Comentário do post "Razão de Estado e Petrobras, por Motta Araújo"
Do lado de lá do Atlântico, alguns séculos atrás...
1. A França vivia sob o regime da monarquia absoluta, no qual o rei podia tudo, sem nenhum freio. A ideia da razão de Estado surgiu entre as cabeças pensantes políticas da época como um freio a esse poder absoluto: o monarca absoluto podia tudo, menos ir contra a razão de Estado. Demonstrado pelos conselheiros do rei e pessoas influentes da corte que tal medida desejada pelo monarca ia contra ela, a razão de Estado, o rei a retirava. Ou por aceitar a argumentação, ou talvez por temer um venenozinho no vinho, uma punhalada nas costas...
2. Voltando para o lado de cá, parte de baixo do hemisfério: a razão de Estado, que podíamos traduzir como os interesses nacionais históricos e imediatos, comanda que sejamos uma nação independente, com um papel de destaque a exercer no tal de "concerto das nações". Quem vai contra isso, é um entreguista, como se dizia nos 60, um serviçal de interesses exóticos. E isso, essa independência política, requer, entre outras coisas, independência energética -- que é o que norteou a criação da Petrobrás, 62 anos atrás, e deve nortear o que concerne à sua existência e atuação. O bombardeio da mídia, valendo-se da munição vazada para ela por operadores da Lava Jato, não visa apenas nem fundamentalmente o PT.
Isto é, apenas, um objetivo intermediário. O objetivo final é acabar com a Petrobrás e pôr nossas riquezas energéticas -- logo nossa independência energética, logo nossa independência tout court -- em mãos alheias. Isto tem de estar, neste momento de verdadeira guerra política, acima de outros problemas, a serem resolvidos depois. Entendam: se acabam com a Petrobrás, com a engenharia brasileira, adeus pré-sal, adeus independência energética, adeus independência política. Sua criação foi uma batalha contra as mesmas forças que ora se esgoelam com essa historieta de corrupção. E chega dessa ideia atrasada, infundida na cabeça do povo pelas forças reacionárias e, estas sim, arquicorruptas em todos os sentidos (sobretudo éticos) do nosso país, de que a corrupção é uma praga a ser resolvida com a cadeia para os corruptos -- sempre os do lado político contrário ao partido oligárquico. Corrupção se combate é com medidas políticas, jurídicas e inclusive administrativas, como parece estarem sendo tomadas na Petrobrás. Os que arvoram a bandeira da anticorrupção costumam ser os maiores beneficiários e promotores própria, da corrupção. O combate a ela é, ou devia ser, uma coisa corriqueira, reparando interminavelmente as brechas, os bugs pelos quais ela consegue se infiltrar.
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