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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O falso mudancismo de Aécio Neves - I (A construção do falso mudancismo)

O niilismo como instrumento da restauração conservadora


(ni.i.lis.mo)sm.
1. Redução ao nada; NÃO-EXISTÊNCIA2. Atitude intelectual que considera as verdades e valores tradicionais como sendo desprovidos de sentido e utilidade.3. Fig. Absoluta falta de crença.4. Fil. Doutrina segundo a qual não existe nada de absoluto.5. Pol. Doutrina segundo a qual a sociedade só poderá ser reformada após sua completa destruição.6. Negação radical das leis e instituições formais.7. Hist. Pol. Filosofia de um grupo revolucionário da intelligentsia russa, na segunda metade do séc. XIX, caracterizada pela total rejeição aos valores da geração precedente.8. Ação anarquista ou terrorista.[F.: Do fr. nihilisme, do lat. nihil ('nada') + -isme.]

Tão logo as urnas se fecharam, os meios de comunicação trataram de colocar a candidata derrotada Marina Silva para entoar o conhecido mote "contra tudo o que está ai", um "tudo o que está aí" que não ousam dizer o nome mas que é um país que melhor sob a direção de um governo trabalhista, de forma que até se justifica a descrença desta elite secularmente ignara, corrupta e escravocrata, o que é inadmissível é que o seu discurso tenha descido para as classes inferiores e tenha pegado. Tudo bem que, conforme nos ensina Marx, estrutura (fábrica, meios de produção..,etc) e superestrutura(judiciário, mídia, religiões) existem lado à lado, cabendo à superestrutura cuidar da parte subjetiva das mentalidades, ou seja, dizer como elas devem pensar e agir.

 Interessante se notar que os meios de comunicação, diante da derrota da "nova política", apresentam Aécio Neves como o portador e representante do "novo" e, como sabemos, SP caiu no conto do vigário, lá Aécio Neves teve uma diferença de mais de 4 milhões de votos. Já em sua terra, MG, onde as pessoas os conhecem, ele naufragou, tanto ele(Aécio) como seu candidato a governador foram derrotados. Então SP, menos né, favor não nos deem de presente, novamente, esse presente de grego. Fernando Collor já basta, não se esqueçam de que este foi eleito por vocês, contra a vontade do restante do pais.

A falsidade do discurso "mudancista"


Como tudo é semelhante à eleição de Collor, o qual era apresentado como o "novo", o homem que iria caçar os marajás, palavra substituída por "meritocracia", este é o novo? Não meus senhores, o novo é este esforço descomunal que o Mercado está fazendo para trazer de volta ao poder os seus representantes. O "novo" é o fim das pensões, proposta defendida por Armínio Fraga, homem forte de Aécio Neves. O "novo" é a defasagem do salário minimo e dos salários em geral que, nas palavras de Fraga, estão altos. Que o Brasil entenda de uma vez por todas que o novo não é nada disso e sim o povo comendo, gastando, viajando, se divertindo. O novo é o dinheiro público para o povão em forma de créditos, Bolsa Familia, Programas de Distribuição de Renda, etc. O novo é isso e não o retorno da velha política do estado minimo para o povão e máximo para o Mercado.

MIREM-SE NA ESPANHA. Tal como o Brasil, a Espanha foi palco de uma onda de manifestações contra "tudo o que está aí". O fruto dessa onda niilista, contra "tudo o que está ai" foi a eleição de um governo de austeridade adepto da peia no lombo de pobre e tudo de bom para o 1%, foi prá isso que fomos as ruas em junho de 2013. Pelo resultado das urnas, parece-me que sim, pois Alckmin, cuja gestão tem sido uma tragédia, foi eleito no primeiro turno com uma votação extraordinária.
Interessante se notar como esse discurso "mudancista", que veio no esteio das jornadas de junho, foi o combustível que ajudou a eleger "novos" como Ronaldo Caiado para o senado em Goiás, e outros Brasil afora, que vão do coronel Telhada ao recordista de votos Jair Bolsonaro e outros penduricalhos cuja apresentação se torna dispensável. Estamos portanto de uma constatação: O discurso "mudancista" a serviço da restauração conservadora.  Sem sombra de dúvida a proposta neoliberal, esse campo conservador representado por AécioNeves, tem sido beneficiado pelo discurso "mudancista". 

Mal as urnas do primeiro turno se fecharam, os meios de comunicação vieram com o seu "novo", o Aécio Neves. Essa construção do voto niilista contra "tudo o que está ai" pode ser notada na repetição, nos últimos dias, do mote("contra tudo o que está ai") por Marina Silva, para dar a entender que Aécio é o novo na política, aquilo que ela defendia e que o eleitor manifestou nas urnas...etc...

Interessante se notar que a tal descrença contra "tudo o que está aí" deu em desgraça para o povo na Espanha, Grécia, Portugal, Itália....Por lá o mercado não perdeu o controle, a austeridade come feio no lombo do povo, os jovens penam com o desemprego. Para Soros e cia, tudo bem, só risos, diante do sucesso do voto contra tudo  "tudo o que está ai" , uma construção cuja engenharia foi muito bem articulada. 

               Fico só observado a cara de pau dos barões da mídia ao apresentar Aécio Neves como o novo, o candidato do "mudancismo", lembra Collor, não é mesmo. Acorda São Paulo, vcs já nos deram Fernando Collor de presente, não nos deem de novo um novo presente de grego, já experimentamos na década de 90, chega! Não queremos de novo a turmo de George Soros e cia mandando neste pais,


           Inacreditável que, mesmo depois da experiência Collor, SP(que garantiu a vitória do "collorido" contra a vontade do restante do pais") provoque uma nova desgraça no pais. Não consigo acreditar. Eu daria um desconto a SP dizendo que eles foram vítimas de uma construção muito bem articulada pelos meios de comunicação num terreno sensível ao conservadorismo como SP, aliás, algo que vem no DNA. Como se sabe, somente em 2002, quando o pais estava no buraco, no final da Era FHC, SP derrotou um tucano por lá na disputa pela presidência, mas foi só o pais entrar nos trilhos, SP deu nova guinada ao conservadorismo e voltou a sacramentar  o voto nos algozes deste pais. "José Serra e Geraldo Alckmin nasceram e fizeram carreira política no Estado de São Paulo. Foram derrotados para o PT em 2002, 2006 e 2010. Apesar disso, Alckmin e Serra venceram em São Paulo, respectivamente, em 2006 e 2010, e Serra perdeu em São Paulo em 2002 por uma diferença menor do que no Brasil inteiro. Aparentemente, o eleitor paulista é bairrista e prefere candidatos do próprio estado. Mas em 1989, Collor teve maior vantagem sobre Lula no Estado de São Paulo do que no Brasil inteiro. Portanto, provavelmente o conservadorismo da maioria do eleitorado paulista pesou mais do que o bairrismo."(

Sim, SP é sensível ao chamamento da velha mídia, a nova versão dos velhos barões do café, esta gente que tem pregado que o correto se "votar em qualquer um para derrotar o PT". SP se esquece que a vida de todos nós melhorou de  vida com os governos Lula e Dilma, em todas as áreas, da petrolífera à educação, passando pela saúde e cultura, também no combate à corrupção, tecla na qual os sem voto teclam uma vez que não podem ser explícitos quanto aos seus planos de governo, pois isso seria perder votos.

A  PTfobia que partiu das elites desceu para a classe média que, se antigamente não tinha grana nem para viajar de ônibus, hoje roda de avião prá cima e prá baixo, mas nada disso interessa, os barões da mídia, os coronéis eletrônicos, deram seu verdito: Fora PT. Os eleitores são levados a não atentarem, por exemplo, para quem está por trás de Aécio Neves, o que seria notado caso o eleitor desse uma rápida olhada no perfil dos que compõe sua equipe econômica para se constatar que não há nenhum mistério ai:  É liberalismo na veia. É estado mínimo para o povão e máximo para o Mercado sem pestanejar.


               Uma pena que a população não preste atenção nas modelos de política econômica defendidos pelos candidatos, privatização, banda larga,  educação, saúde, política externa...claro, sendo a área econômica a que mais merece atenção, afinal de contas  pais é uma das 10 maiores economias do planeta, temos o BRICs em andamento, trilhões de reais a serem faturados no pré-sal cujos royalties são em sua totalidade para a educação e a saúde. Como não levar tudo isso em conta, como não se preocupar com isso, em garantir isso para o nosso bem-estar.

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O debate continua...



Os abutres estão batendo asas no rumo de cá

Os abutres já começara bater asas pro rumo de cá? Será que os descrentes com "tudo o que está ai" sabem quem é André Lara Resende? Será que os universitários que, guiados por seus mestres foram as ruas sabem que Eduardo Giannetti defende o ensino pago nas unversidades. Será que os descrentes(não revoltados, pq quem fica viajando de avião prá cima e prá baixo não deve estar tão revoltado assim, talvez descrente, uma descrença inoculada pelos abutres e suas mídias) sabem o que é política do estado mínimo para o povão e máximo para os abutres, a Argentina, Espanha, Itália, Grécia sabem...

Calendário SPIN

Avatar, vc tocou no ponto que

Avatar, vc tocou no ponto que eu considero o mais importante de todos que é deixar muito claro para todo mundo quem foram os facilitadores/fiadores do projeto Soros; as universidades públicas ( mestres e alunos ) foram os grandes entusiastas e abriram as portas do país para essa entrega. acho muito importante deixar isso claro pq, depois, é aquele papo de comissão da verdade... tudo sobra para os militares e quem armou a arapuca mesmo desaparece e continua fazendo mais do mesmo até hoje. Basta que se entrgue um milico de pijama com103 anos e o pessoal entende resolvida a questão da ditadura. Collor, foi eleito por ninguém e derrubado por "caras pintada"; ou seja, eleito e derrubado por ninguém. As " ruas" apresentaram alunos e professores, fortemente financiados, com rostos cobertos tentando passar-se por " povo" para garantir o anonimato eximindo-se de qq responsabilidade acerca do que viria depois. O que quer que aconteça, será atribuído a ninguém. Só essa intenção já deveria deixar claro o que esse projeto significa para o país e a consciência plena dos que estão envolvidos nele.

Luis Nassif:

Continuo acreditando que a candidatura de Marina Silva é um risco, devido à falta de estrutura, de apoio político e ao espírito voluntarioso da candidata.
Mas a campanha de Marina trouxe para o centro do debate dois temas centrais, abandonados pelos demais candidatos.
Um deles, o aprofundamento da democracia social, através da ampliação dos conselhos de participação e da democracia digital.
Ontem o tema mereceu manchete do Estadão e a cena hilária do jornal dar voz ao Movimento do Passe Livre (MPL) para que afirmasse que Marina não representa a voz das ruas. Deu gosto ler o Estadão endossando a pureza programática do MPL.
No final da tarde, a campanha da candidata soltou uma nota desautorizando o trabalho divulgado pelo Estadão e explicando que não havia passado pelo crivo da candidata e de Neca Setubal, coordenadora do programa de governo.
É interessante sublinhar alguns trechos de manifestações recentes:
"A criação de um marco regulatório das organizações da sociedade civil (...) surge como uma oportunidade para repensar o papel do Estado e das organizações em direção à democracia".
(...) "O mundo contemporâneo exige que as estruturas democráticas sejam capazes de suste
ntar um Estado que mobilize diferentes forças em prol de um projeto comum".
(...) "É fundamental que as organizações da sociedade civil sejam legitimadas e apoiadas por um conjunto de regras que sustentem sua ação, como prevê o Marco Regulatório".
As afirmações acima não são do trabalho, nem de um livre-pensador aliado de Marina. Nem são de Gilberto Carvalho, nem foram importadas da Bolívia. Constam de um artigo de Maria Alice Setubal, a Neca Setubal, de 7 de abril passado na Folha de S. Paulo (http://tinyurl.com/k9qeool) defendendo o Marco Regulatório - que os jornais até hoje chamam de bolivariano, chavista.
Aliás, é um bom tema para os que medem o nível de primarismo da chamada elite paulistana pelo padrão Veja. Há um pensamento moderno sendo modelado no empresariado paulista, presente nos pactos entre Secovi e a prefeitura e nas ações de ONGs privadas que sabem da importância de conviver com movimentos sociais e ONGs de esquerda nos fóruns de políticas públicas. Ou seja, entendem os conceitos modernos de democracia e a importância da inclusão política no aprofundamento democrático.
Mesmo com a nota tentando amenizar o patrulhamento, a bandeira da ampliação da participação social e do protagonismo das redes sociais, do aumento do controle social sobre a atividade política, é o dado novo na política brasileira, é o passo adiante, é a bandeira que estava disponível desde junho do ano passado e que nenhum candidato, até agora, ousou empunhar.
Espera-se apenas que Dilma Rousseff e Aécio Neves entrem nessa disputa virtuosa e tragam o tema para o centro dos debates.
A segunda bandeira é a questão do meio ambiente mas, principalmente, como o tema vai impactar a chamada mobilidade urbana. Especialmente em um momento em que a mera criação de corredores de ônibus, ponto mínimo para conferir alguma isonomia ao passageiro de transporte público, cria tal comoção na mídia local.
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Como é que é?! 

Digo Costa:

Quer dizer então que a Presidenta Dilma Rousseff é que faz o Decreto 8.243 (Política Nacional de Participação Social) e é Marina que leva os créditos? Pelas barbas do profeta, parem o mundo que eu quero descer...

Quer dizer então que a Presidenta Dilma Rousseff, antecipando expectativas e de forma absolutamente certeira e progressista, propõe um plebiscito para chamar uma Assembleia Nacional Constituinte específica para tratar do tema da Reforma Política, e é Marina que leva os créditos? Pelas barbas do profeta, parem o mundo que eu quero descer...

Quer dizer então que o Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, do Partido dos Trabalhadores, implanta uma experiência pioneira de participação social através de meios digitais (Gabinete Digital) e é Marina que leva os créditos? Pelas barbas do profeta, parem o mundo que eu quero descer...

A campanha de Marina não trás absolutamente nada de novo para o debate político no Brasil. Ao contrário, apenas resgata velhas múmias neoliberais dos tempos do Faraó FHC I. Quando Marina fala em participação social, em plebiscitos ou em participação digital, isto já vem como um discurso bolorento e mofado.

E vem como um discurso bolorente e mofado, além de oportunista, porque o PT e Dilma, bem como outras figuras desta agremiação já fazem isto há muito tempo, desde antes dos 'protestos de junho de 2013'.

Aliás, bom mesmo seria dar uma conferida nas reações diversas que a excelente proposta de Dilma Rousseff para a reforma política teve no ano passado, logo que foi proposta. Muitos progressistas de hoje, que dizem defender a participação social e os plebiscitos disto ou daquilo, sentaram o pau em Dilma naquela oportunidade...

imagem de Maria Silva
Maria Silva

Sem novidades


Luis Nassif. Dá licença. Mas acho que voce se enganou.Recentemente o governo criou, pelo  Decreto de 30 de maio de 2014, os tais conselhos populares, que foram duramente criticados por todos, de A a Z. Portanto, afirmar que ampliação dos conselhos de participação é novidade, é um equivoco. Quanto a criação de marco regulatorio pra as organizações da sociedade civil,, não passa de um palavrorio ambiguo que não diz nada. Que organizações da sociedade civil ela ta falando? A sociedade civil engloba tantas organizações quantas são as estrelas  que vemos no ceu. O que ela quer dizer como isso de "marco regulatorio"? Fala mansa, com palavras bonitas, mas sem conteudo, sem substancia. Eu confesso que ate outubro eu vou enloquecer ...

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Dilma assinou mas ainda não

Dilma assinou mas ainda não assimilou o modelo. Até o último minuto, tinha dúividas sobre suas consequências e sobre a intromissão nas decisões da presidência. Foi necessária muita crítica externa para que cedesse aos pedidos de Gilberto Carvalho. Mas vai assimilar.



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As manifestações de junho agora tem um rosto
Atrás de Marina Silva, há a sensação indefinida de que “algo não vai bem”. Há anos de bombardeio midiático a dizer que “a política não presta”. Marina, uma política profissional, que vive há mais de 30 anos da política, deu cara a esse sentimento difuso. Junho ganhou um rosto. E os neoliberais podem voltar ao poder, na garupa de Marina.
por Rodrigo Vianna

Narcisismo: a "não política" ganha um rosto...
Depois de junho, há sempre um… agosto. Sim, é como se este agosto de 2014 fosse a continuação inexata e algo surpreendente daquele junho de 2013 – que levou milhares às ruas.
O nome de Marina Silva não foi gritado nas ruas em junho de 2013. Não. Aquele foi um movimento inorgânico, um sintoma de que a grande mudança social operada no Brasil dos anos Lula havia gerado contradições quase insanáveis. E que o petismo estava mal preparado para lidar com elas.
Os manifestantes berravam contra a política em 2013 : “fora os partidos”, gritavam muitos jovens de junho. Ninguém me contou, eu vi nas ruas. Aquela foi uma miscelânea: justas reivindicações progressistas, lado a lado com o grito fascista de gangues - que surravam qualquer um de camisa vermelha pelas ruas. Isso foi junho de 2013. Eu vi. Ninguém me contou.
Dilma fez a leitura correta de junho. Foi à TV e propôs a Reforma Política – reconhecendo a esclerose de um sistema político dominado pelo peemedebismo que gera asco entre jovens e velhos, entre conservadores e esquerdistas. A única forma de derrotar a “não política” é com mais política…

Segue link para o texto na integra...

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Pra que tanta celeuma sobre a participação social?


Quem é contrário à participação social não sabe, ou não quer saber, que ela favorece a democracia e deu certo em outros países altamente civilizadospor Fabio Konder Comparato, Calixto Salomão Filho, na Carta Capital ElinorOstrom
A ganhadora do Nobel Elinor Ostrom provou que bens relevantes são mais bem geridos por quem é afetado pela gestão
A recente discussão sobre a política de participação social traz consigo uma grande indagação. Por que uma proposta de participação direta, em diferentes instâncias, de formulação de políticas públicas poderia gerar tanta controvérsia?
Controvérsia incompreensível, por razões óbvias.  Participação popular nunca se opôs à democracia. É, ao contrário, o seu corolário. Participação popular também nunca se opôs à tomada consequente e bem informada de decisões. É, ao contrário, seu requisito. Não é preciso ir longe nem se valer de exemplos históricos, para demonstrar as duas afirmações.
Quanto à primeira, basta ler o artigo 1º, parágrafo único de nossa Constituição Federal: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Mas como, aparentemente, essa solene declaração constitucional serve de mera fachada para encobrir a permanente realidade oligárquica, é preciso ir mais longe.
Para demonstrar a ligação entre participação popular e democracia, o mais convincente é identificar sua presença nos sistemas que – para o bem e para o mal – sempre foram o exemplo a ser seguido, no discurso majoritário entre nós. O sistema político norte-americano, sob certos aspectos mais sofrível que o nosso (como a eleição minoritária do presidente Bush, em 2000, demonstrou), usa largamente dos instrumentos de participação popular direta. A maioria dos estados norte-americanos e muitos municípios aplicam políticas de iniciativa popular, ou votadas diretamente pelos cidadãos, em conselhos municipais de caráter não só consultivo, mas também deliberativo.
Quanto à ligação entre participação popular e qualidade das decisões públicas, sua demonstração é ainda mais fácil. Só a proximidade com os interesses administrados produz decisões informadas. Mais do que isso, só essa proximidade ajuda a criar uma população apta a discutir de maneira informada os seus interesses nas esferas próprias. Ainda aqui dois exemplos são relevantes.
O primeiro, acadêmico e prático, chama atenção para o valor puro da participação. A primeira mulher a receber o Prêmio Nobel de Economia (2009), Elinor Ostrom, foi agraciada exatamente por suas pesquisas que demonstraram, entre outras coisas, que bens de grande relevância e valor para a coletividade (o que ela chama de common goods – bens comuns) só podem ser convenientemente geridos, quando submetidos à administração dos próprios grupos afetados pela sua gestão. Os exemplos concretos por ela citados, que vão desde a gestão da pesca no Mar do Norte à autogestão de bairros carentes no Peru, são muito reveladores.
O segundo exemplo da importância da participação social na qualidade das decisões a serem tomadas ocorreu na Alemanha. Lá, desde os anos 60 do século XX, criou-se por lei a obrigatoriedade de participação paritária dos representantes de trabalhadores de grandes empresas no seu órgão decisório (Aufsichtsrat). Os resultados, naquele momento, surpreendentes, marcam a economia alemã até hoje. A participação decisória dos trabalhadores incrementou a qualidade da gestão das empresas, levando à sua profissionalização e ao abandono da tradicional gestão familiar. No nível macroeconômico, estimulou a concentração da maior parte dos investimentos das grandes empresas alemãs no longo prazo (que em muitos casos até hoje geram frutos) e não no curto prazo, voltados a produzir os malfadados lucros exorbitantes e imediatos (fontes da crise econômica global de 2008).

Se a participação popular só faz reforçar a democracia e a qualidade das decisões, pergunta-se: por que tanta celeuma? Há duas explicações possíveis. A primeira, mais simples, mas não necessariamente única, é a do momento político. A infeliz coincidência com o calendário eleitoral teria feito que surgissem críticas de pessoas, órgãos e instituições, que em outro momento jamais se manifestariam contra a participação popular.
A segunda é mais complexa, mas não necessariamente menos verdadeira. O oposto de participação popular não é e nunca foi, como visto, a democracia. É, sim, o domínio das decisões tomadas oligarquicamente pelos grupos minoritários mais influentes, política e economicamente. Assim, podadas as iniciativas de participação popular, as políticas públicas, as leis e os regulamentos continuariam nas mãos dos que sempre detiveram, na sombra, o poder soberano.

Não foi de Marina e sim de Dilma a proposta de Sistema Nacional de Participação Social

Miguel do Rosário, no Tijolaço:

Marina adere ao bolivarianismo?

marina_chavista
Quando Dilma assinou o decreto que institui a Política Nacional de Participação Social, os jornalões protagonizaram uma reação histérica, como se estivéssemos em vias de aderir a um bolivarianismo radical.
O Globo publicou um editorial ultra-agressivo, intitulado: “Decreto agride democracia representativa”. Estadão, Veja, Olavo de Carvalho, Folha, todos se juntaram num grito uníssono de repúdio: como assim ampliar a participação popular? O povo? O povo que se dane!
Nada como um dia após o outro.
O programa de governo de Marina Silva acaba de encampar a proposta da presidenta. Aliás, encampa todas as propostas que a presidenta ofereceu à sociedade, após as manifestações de junho, contra as quais a mídia se insurgiu com enorme violência editorial: conselho de participação social, mais plebiscitos, mais consultas populares.
Comprem pipocas, a mídia vai entrar em parafuso! Será coerente e baterá na Marina?




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