Por Paulo Nogueira, no DCM
O bate-boca entre a Globo e Garotinho sobre o célebre caso de sonegação da emissora mostra uma coisa: esta história tem que ser esclarecida.
Já.
As explicações da Globo são absolutamente inconvincentes. São mais complexas do que a patética fala da apresentadora Mariana Gross em que ela garantiu, aos telespectadores, que a Globo paga o que deve.
Mas são igualmente insuficientes: mais confundem que esclarecem.
Garotinho se aproveitou de estar ao vivo numa entrevista para, sob a pressão de perguntas agressivas, devolver a acusação.
O vídeo em que isso ocorreu viralizou na internet. Foi dar no YouTube, e lá a Globo vem tentando tirá-lo sem sucesso. Alguém posta de novo.
Para encurtar, documentos vazados pelo site Cafezinho mostraram, há cerca de um ano, que a Receita Federal flagrou a Globo num delito fiscal na compra dos direitos de transmissão da Copa de 2002.
A Globo tergiversou, e foi ajudada pelo silêncio da mídia e da própria Receita.
Agora, em resposta a Garotinho, ela afirma que acertou a dívida pelo Refis, um sistema de refinanciamento para devedores de impostos.
Mas um momento.
Por que o Refis para a Globo? Ela precisa? Não tem condições de pagar o que deve?
Dias atrás, foi noticiado que a Globo vendeu as cinco cotas do futebol de 2015 por cerca de 1,3 bilhão de reais.
Repito: 1,3 bilhão. Apenas isso é mais que todo o faturamento anual da Record, a emissora número dois.
Os três irmãos Marinhos são donos da maior fortuna do Brasil, combinado o que herdaram do pai.
Refinanciamento? Condições especiais?
Neste tipo de ação, a generosidade é feita com o dinheiro do contribuinte.
O devedor pode esticar o pagamento em demoradas parcelas. E as taxas de juros são maternais. Em 2014, elas são de 0,4167% ao ano.
A Selic, a taxa que norteia os juros no Brasil, está em 11%, quase 30 vezes mais que o que vigora no Refis.
É de interesse público saber por que a Globo foi beneficiada – esta a palavra – com as condições generosas do Refis.
Num mundo menos imperfeito, o Refis só seria concedido a devedores incapazes, realmente, de arcar com o que deixaram de pagar.
Melhor pegar parte do que nada do que é devido: esta a lógica.
É o caso da Globo?
Bem, invoco aqui o Duque de Wellington e sua frase definitiva: quem acredita nisso acredita em tudo.
Há muita pobreza no Brasil, muita desigualdade para que o dinheiro público seja tão camarada, tão complacente, tão permissivo com a bilionária Globo.
Dinheiro de imposto constrói escolas, hospitais, estradas, portos etc.
Mas a Globo parece ter outro entendimento.
Dinheiro de imposto, para ela, é para ser driblado – e com isso alimentar patrimônios pessoais.
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