Um mutirão antineoliberal para salvar o Brasil de nova devastação
A forma da campanha eleitoral mudou: Aécio foi substituído pela Marina como candidato da oposição. A simples contraposição entre os governos do PT e do PSDB desenha uma derrota já no primeiro turno para a oposição, a quarta consecutiva.
O mais que suspeito acidente aéreo – caixa preta não gravou, mas a população viu um avião caindo em chamas, indicando que houve a explosão de algum artefato no seu interior – que levou à substituição da candidatura do PSB mudou o quadro eleitoral na sua forma, mas seu conteúdo segue o mesmo, conforme Marina assume teses ainda mais explicitamente neoliberais.
O Brasil mudou, principalmente no plano social e econômico, também no plano político, mas os valores deixados pelo neoliberalismo não foram substituídos por valores alternativos. E nisso, falharam todas as forças antineoliberais.
Falhou o governo, porque não desenvolveu sistematicamente um discurso explicativo sobre o significado das suas políticas de superação do neoliberalismo. Falhou por não avançar nada na democratização dos meios de comunicação, que impedisse que a máquina monopolista da mídia seguisse perpetuando esses valores e desvirtuando o sentido das políticas do governo.
Falharam os partidos de esquerda – os que apoiam o governo e os que o criticam –, assim como os movimentos sociais, porque não fizeram desse tema sua ação central nestes anos em que logramos colocar o neoliberalismo na defensiva pelas políticas sociais do governo. Mas não foi desenvolvido um trabalho de massas no plano ideológico, que ajudasse a consciência social do povo em relação às imensas e progressistas transformações que vive o país.
Esse trabalho não poderá se desenvolver satisfatoriamente na campanha, mas é preciso concentrar em desmascarar as teses do “nem direita, nem esquerda”, “nova política”, para centrar a agenda da campanha no modelo neoliberal e nas propostas e programas antineoliberais.
A campanha será uma disputa de agenda: a Marina tentando centrar na desqualificação do Estado – do mandato do PT, da Petrobras – e na suposta superação da polarização PT-PSDB. A campanha da Dilma tem que se centrar no modelo neoliberal de que a Marina, mais além dos envoltórios, representa de forma ortodoxa.
Um imenso mutirão popular antineoliberal é o que pode levar a mais uma derrota da direita e à continuidade e aprofundamento do projeto iniciado por Lula em 2003.
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Especial Eleições: Artigos, entrevistas, indicações de leitura e vídeos para aprofundar as questões levantadas em torno do debate eleitoral de 2014, no Blog da Boitempo. Colaborações de Slavoj Žižek, Mauro Iasi, Emir Sader, Carlos Eduardo Martins, Renato Janine Ribeiro, Edson Teles, Urariano Mota e Edson Teles, entre outros. Confira aqui.
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Emir Sader nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, é cientista político e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e coordenador-geral do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Coordena a coleção Pauliceia, publicada pela Boitempo, e organizou ao lado de Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile a Latinoamericana – enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (São Paulo, Boitempo, 2006), vencedora do 49º Prêmio Jabuti, na categoria Livro de não-ficção do ano. Colabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quartas.
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